segunda-feira, junho 22, 2009

Amai os Vossos Inimigos

Este, sem dúvida, é um dos ensinamentos, do amado e divino Mestre Jesus, dos
mais difíceis de colocar em prática, justamente porque é um ensinamento que
parece controverso, tornando-se complicado de entender e quase impossível de ser
posto em prática através de uma vivência.

Mas, que tal, primeiramente, entendermos cada palavra deste ensinamento de modo
isolado, para que, depois, possamos compor a frase de modo mais claro, mais
compreensível?

Jesus deixou-nos como dádiva uma bússola norteadora chamada Evangelho, e só nos
deixou como ensinamentos aquilo que Ele mesmo vivenciou, isto é, o que Ele, de
modo manso e amoroso, viveu na prática: suas próprias e sábias palavras.
Palavras e práticas simples de se compreender. Ensinamentos verdadeiros, isto é,
aqueles em que, se colocarmos em prática, é garantia de sucesso e redenção para
a nossa alma. São coisas, enfim, reais!
Então, vamos analisar cada palavra da frase “Amai os vossos inimigos” e
descobrir se esta frase tem um sentido real que se traduz em lições divinas.


“Inimigo” – no Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, de Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira, este adjetivo significa:

- não é um amigo;
- adversário;
- contrário;
- nocivo;
- indivíduo que tem ódio a alguém ou a nós.


Bem, o fato é que há mais não amigos que amigos.

- Adversário – competidor, que se opõe a nós. Palavra que vem de “adversidade”
(contrariamente a má sorte);
- Contrário – desfavorável;
- Nocivo – que faz mal, causa dano.


Bem, sabemos que nosso mundo é um mundo de provas e expiações, isto é, uma
divina escola fundamental de ensino espiritual, onde, a grande maioria dos
espíritos que está aqui, estagia numa etapa inicial de evolução e elevação
espiritual, em que, pela imperfeição moral e espiritual, está em intensos
ajustes e reajustes.

Local onde os espíritos se encontram e reencontram para que expurguem suas
faltas e erros, passados e presentes, através da vivência grupal.

Ora, se praticamente só há espíritos imperfeitos, é claro que a imperfeição de
sentimentos, atos e julgamentos perduram nestes encontros e vivências.

Portanto, haverão choques de interesses, de vontades, e isto significa vontades
opostas se degladiando para prevalecerem umas sobre as outras.

Assim, qualquer um que contrariar nossas vontades, pode ser considerado um
não-amigo (ou inimigo) pelo nosso egoísta e imperfeito julgamento.

Se alguém pisar em nosso calo já é suficiente para nos fazer algum mal, segundo
nosso próprio julgamento. Na maioria das vezes queremos dar o troco na mesma
moeda, não é mesmo?

Do pequeno ao grande “mal” que alguém nos fizer já entram em nossa lista negra
de desafetos.

Às vezes, até um amigo nosso pode mudar de lado caso ele nos faça alguma coisa
que nos contrarie. Viramos a cara e não queremos conversa.

Quantas vezes longas amizades deixam de existir, ou balançar, por causa de
contrariedades?

Inimigo, portanto, tem uma conotação que pode variar quase ao infinito na nossa
escala de julgamento.

Vizinhos, colegas de trabalho, parentes, motorista do lado, etc. Todos podem
virar nossos inimigos. Podem porque vivemos numa sociedade em que aprendemos
desde pequenos a competir, a sermos os primeiros, os melhores, mais espertos que
os outros, ao invés de sermos educados a superar nossas próprias dificuldades,
sem necessidade de competir com mais ninguém.

Mas, competimos e, na maioria das vezes, não vencemos, não somos os primeiros e
não é a nossa vontade aquela que predomina. Isto já é o bastante para julgarmos
que os outros já nos fazem mal pelo simples fato de não termos ganhado aquela
disputa.

“Nosso ego é o nosso verdadeiro inimigo”.

Ainda tem o significado da palavra inimigo que diz: “indivíduo que tem ódio a
alguém”.

Será que nós mesmos não nos colocamos neste mesmo significado desta palavra
quando sentimos ódio por alguém? Quem é que nunca sentiu ódio?

Creio que, cada um de nós, em maior ou menor grau, sente isso. Então,
ironicamente, viramos o vilão desta história de inimigo também. Quer dizer:
somos tão imperfeitos quanto aqueles que julgamos nossos inimigos, afinal
estamos num mundo recheado de imperfeições.

Muita gente pode até pensar que estou exagerando, porque pode achar-se uma boa
pessoa, incapaz de ser inimigo de quem quer que seja; incapaz de fazer mal para
alguém. Das duas uma, ou a pessoa está no mundo errado, ou não percebeu que sua
própria imperfeição não deixou que ela notasse que não houve exageros, porque,
uma vez ou outra, cometemos nossos erros por aí, quando, por exemplo, sentimos
raiva de alguém, ou ficamos contrariados e criamos situações para fazer oposição
à vontade alheia.


Vamos analisar a segunda palavra:

“Vosso” – aquilo que vos pertence; seus e não dos outros.
Aquilo que é nosso, e não dos outros. Temos porque fizemos merecedores; temos
porque, de algum modo, atraímos algo para nós, porque, até mesmo em alguns
casos, desejamos ter recebido.


Falando especificamente em inimigos, parece uma coisa estranha que alguém deseje
um inimigo próprio, sozinho seu.

Mas, muitas vezes, criamos condições para que atraiamos alguém assim. Vou dar um
exemplo simples: se você fizer uma fofoca de alguém para outra pessoa e esse
alguém souber disso, ele não só não vai gostar como vai passar a ter sentimentos
negativos em relação a você, não é mesmo?

Então, criamos o nosso próprio e exclusivo inimigo.

Este é um simples exemplo, mas há outros muito maiores, piores e mais complexos,
e isto se traduz em termos um inimigo (ou vários) em uma escala mais ampla.

E, como a vida não é obra do acaso, mas sim um complexo e sábio emaranhado de
laços afetivos que devem se estreitar, aquelas coisas que um dia fizemos de mal
a alguém, volta a nós e, muitas vezes, volta-nos como um inimigo que na atual
encarnação não pedimos e que parece um inimigo gratuito. Mas, as leis divinas
são sábias e, cedo ou tarde, vítima e agressor do passado são chamados a viverem
novas experiências que os aproximem, para os devidos reajustes cármicos.

A última palavra:

“Amai-vos” – isto é, “nós devemos amar”

E, amor, significa:

- afeição
- afeto a pessoas ou coisas
Afeto – amizade, simpatia, paixão.

Poxa, agora complicou!

Ter amizade, simpatia, afeto por um inimigo! Isto é demais! Impossível! Só um
santo para ter isso.

Calma ! Vamos explicar a palavra “amor” recorrendo à própria bíblia e suas
inúmeras traduções e interpretações dadas.

O Novo Testamento foi, também, escrito em grego e, os gregos, usam mais de uma
palavra para descrever o fenômeno do amor.


Temos as palavras:

Eros – que significa sentimentos baseados numa atração, num desejo ardente;
Stongé – afeição familiar;
Philos – fraternidade, amor recíproco;
Agapé – amor incondicional, sem exigir nada em troca. É o amor baseado no
comportamento e escolha e não o sentimento amor.


A palavra utilizada nesta passagem bíblica que diz que devemos amar os nosso
inimigos, é Agapé. O amor-comportamento.

Nem sempre conseguimos controlar o que sentimos por alguém, mas conseguimos
controlar nossos comportamentos.

Ágape é o mesmo que comportar-se amorosamente (ser paciente, honesto,
respeitoso), não se comportar inconvenientemente, não compactuar com a maldade,
mas com a verdade, não conservar um erro cometido, desistir de manter o rancor.

Agora, para concluir o “Amai os vossos inimigos”:

Não quer dizer que devamos ter a mesma ternura para um inimigo do mesmo modo que
dispensamos para um amigo, ou irmão. Não está na nossa natureza, isso.

É comportar-se com dignidade, não ter ódio, não querer a vingança, esquecer,
abster-se de atos ou palavras felinas, e não humilhar.

Isso pode ser difícil, mas é muito mais fácil e até mesmo possível de se colocar
em prática, basta querer ter a boa vontade, basta comportar-se com o
comportamento amor.

E, quando assim conseguirmos agir, passamos a encarar de modo menos pejorativo
aquelas pessoas que achamos nossas inimigas. Conseguimos mais fácil chegar ao
perdão, não continuar alimentando, pelo menos, o ódio, a raiva, o rancor, a
vingança, que são as grandes chagas que possuem esse bendito planeta-escola.

Sigamos os iluminados passos do Mestre Jesus.



Referências bibliográficas :

Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec - CAP. XII
O Monge e o Executivo – James Hunter

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Edu, bem verdadeiro o que escreveu. Seria tão bom se tivéssemos todos nascido com a capacidade do perdão, do não considerar o "dente por dente, olho por olho", mas essa não é a realidade pois o mundo já foi corrompido por maus sentimentos e não existe mais cura.

bj de fera pra vc

raquel gomes disse...

Oi Eduardo, estou escrevendo para agradecer por sua inspiração, estava me preparando para uma palestra e parecia truncada, travada, com seu testo consegui emergir, desenvolver o meu prório e acredito que conseguirei fazer uma apresentação razoável. Sou iniciante nas apresentações e costumo dar umas bisbilhotadas nos trabalhos de colegas mais experientes. Deus está contigo. grande abraço, ahh... obrigada

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